terça-feira, 30 de junho de 2015

Alquimista da cadeia alimentar

Já fritei merda pra comer torresmo, com esterco atolado até os joelhos, inspirado em mim mesmo superei os medos. Compreendi que ninguém fica na bosta porque gosta, atolado em problemas ou de esterco na corroça. Me tornei um alquimista da cadeia alimentar, sem ter com o que se alimentar. Sem ter onde plantar e sem poder parlamentar. Segui falando comigo mesmo atolado até os joelhos fritando merda e comendo torresmo, sentindo o desprezo, o preconceito por ser pobre, mas descobri que pobre também pode ser alguém que vai além... que é sujeito, mesmo sujeitando-se a tanta humilhação. Na vida nada é em vão. O ser humano... segue navegando em um mar de ilusão.  Real é a exclusão! Fantasmagoricamente nos tornamos pejorativos, CPF inativo, mortos vivos, estatística!  A reciclagem é um meio que não justifica o fim do que não tem a chance de se produzir. As pedras jogadas na Geni se transformam em sopa dividida com as migalhas de pão jogada as pombas, e pelas ruas escuras e úmidas sob o papelão, lá estará mais um que não fara diferença para o estado enumerado, etiquetado. O caixão de lambri não irá interferir, o sistema sabe de todo o esquema. E a pandemia prossegue, crianças assassinas assassinadas nas esquinas. Poderia ser minha cina. Fritei merda pra comer torresmo, muitas vezes não fui mim mesmo, fingindo que tudo era colorido neste mundo corrompido, mas mantive os pés no chão descalços e o elemental absorvido. Com meu ser aflito me mantive paciencioso e sereno, destilando o veneno no mais profundo sentir, do pré-conceito a premunição, do tocar e o fluir de um sorriso ou um aperto de mão. As lágrimas temperaram a sopa e em meio a barracos e mansões enxerguei além das impressões, tive de ser manso, buscar a recordação profunda de mim mesmo, me perguntei: Sera que tudo isso já passei? A miséria, a fome, vão além... A solidão em meio a multidão, a ânsia de gritar e pela ignorância estar amordaçado, o nó engasga e rasga nossa alma. E em meio ao atoleiro me observei sem disfarce, acordei e percebi que nada é além de um sonho e que o despertar é imediato. Ainda há tempo e devemos estar despertos em meio aos pandemônios... já fritei merda pra comer torresmo, e hoje queimo meus neurônios  na busca do mim mesmo!
by: Rubem Schutz (Whitejay)

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