domingo, 29 de agosto de 2010

O Hip-Hop precisa da política, ou a política precisa do Hip-Hop?


Ha momentos na vida da gente que devemos parar e pensar realmente o que queremos pra nós. Durante um bom tempo de minha vida perdi muito com paradas que não me davam expectativa alguma, quando entrei para o Hip-Hop foi porque gostava daquele movimento, gostava das rimas, da dança, enfim da arte de rua. Com 13 anos já me considerava a rua, como vocês meus queridos seguidores e leitores já leram em outros posts, mas uma parada que ainda não contei é que o meu primeiro contato com movimentos de protesto foi com a turma dos RR-ZN (Ratos Rebeldes da Zona Norte), formado por Mevon, Kilke, Pantera, Nego, Abacaxi e eu Rubinho o mais novo na turma. Foi com esta galera que comecei a me envolver e sair da quebrada pra dar os roles em POA nas Danceterias New Looking, Open Mind, Sociedade Polônia mas não me esqueço do rock no viaduto do Obirici. Bons tempos aqueles! É foi através daí que comecei a me ligar mais nas paradas das diferenças sociais, o rock me incentivou muito, mas não via futuro naquela parada, até porque era guri e não levava nada a sério, queria dar meus roles e aprender a malandragem da rua. Foi nesta época que presenciei muita pauleira entre gangs rivais, entre eles cito as mais conhecidas (Thundercats e AUA) estas deram muito o que falar. Muitas vezes a gente levava sem ter nada a ver. Eera muita treta! Mas nossa galera não era de briga, era sé de curtição e pichações onde eu assinava como “Rubinho” da RR. Era muita adrenalina sair por ai riscando tudo, eu me sentia importante em ter meu nome nas paredes de Porto Alegre, isto me autoafirmava perante a sociedade que não me enxergava . E quando passava de banzo me orgulhava em dizer “olha lá meu nome”. É... quando somos jovens adolescentes se não tivermos um acompanhamento e uma orientação certa de um caminho a seguir muitas vezes nos perdemos no trecho, ai quando pensamos em voltar é tarde demais. Isto graças a Deus não aconteceu comigo. Tive a oportunidade de conhecer a cultura Hip-Hop que me apresentou o Rap do mano Thaíde “homens da lei” e abriu minha mente para questões que na época do Rock passaram desapercebidas tipo ouvir Titãs “Policia” não causou o mesmo impacto, acredito que pela minha imaturidade ou talvez pelo ritmo que não me balançou como o Rap, mas a experiência que tive com minha galera do rock foi muito importante e mantenho esta relação até hoje, muitos dos meus amigos viraram operários padrões, um é campeão de judô; o único que tinha o Rock na veia mesmo é o Nego que continua até hoje e tem o Studio Microondas na Vila Elsa em Viamão. O cara tem um dos maiores acervos de vinis de rock que conheço, de vez em quando passo por lá pra curtir um som . Mas continuando nosso raciocínio, conheci o rap em 87 e junto com meu amigo Pantera comecei a escrever umas rimas. Na verdade quem começou foi ele eu ia só no embalo, só que as letras eram só de brincadeira coisa de muleque mesmo , olha só um trecho do rap “ olá rapaziada! Como vai tudo bem? meu nome é Guabirova e sou daqui também . Se eu como um chiclete de fruta ou hortelã eu fico bem loco pra ...) bom o restante eu deixo na imaginação de vocês. Aí pensei, tenho que escrever algo que tenha mensagem positiva e com conteúdo. Já estava me ligando mais nas paradas de preconceito e diferenças sociais que os rappers da época alertavam, foi ai que me tornei MC junto com meu mano Beto Funk escrevemos nossa primeira letra (Cidade Constituída). Foi o começo de uma história que já conhecem. Mas meu principal motivo para este post é justamente por parar e refletir minha vida e tudo o que já passei para chegar até aqui. Hoje ocupo um lugar muito especial na sociedade, tenho responsabilidades sobre minha vida e a de muitas outras, me tornei um ícone dentro da cultura de rua uma liderança social dentro de uma organização política,o programa Hip-Hop Sul abriu as portas pra mim e a política me fortaleceu , devo muito a um amigo chamado (Diego Pixote do Grupo Grathest’s MC’s) grande liderança política da década de 90 que influenciou muitos jovens da periferia de Alvorada a entrarem na política. Foi através deste mano que conheci a importância e a ameaça que representamos para a elite. Me envolvi em campanhas eleitorais e logo após o elegemos vereador mais jovem do Estado exercendo o mandato de 2001 a 2004. Foi muito importante aquele momento da vitória do Governador Olívio Dutra, cantamos o Rap jingle “ Rio Grande trabalhador, Olívio Governador” Para muitos de nós foi apenas um show, porém para outros uma página a ser escrita pela periferia, sinto-me privilegiado por ter participado da luta do PT na construção da unidade popular, da caminhada até a vitória de Lula, e se hoje me perguntarem se eu um dia pensei em ser o que sou não se surpreendam se a resposta for sim, pois, diante das maiores tribulações de minha vida, tive lucidez suficiente para acreditar que teria uma chance e que com certeza seria alguém. Não há frustração, pois todas as lutas que travei foram comigo mesmo e me orgulho em ser quem sou. Acredito que nós seres humanos temos o poder de transformar e mudar a trajetória, e construir uma história diferente daquelas que todos os dias ouvimos nos telejornais sensacionalistas que fazem de nosso sofrimento sua ferramenta de disputa. Hoje, atuando em conjunto com a Deputada Manuela d’Ávila , a mais jovem vereadora e a Deputada mais votada do RS adquiri experiência, conhecimento e entendimento sobre a luta de classe e com muita autoridade desenvolvo o papel de liderança e agente direto das políticas públicas para a periferia informando e formando cidadãs e cidadãos para o mundo. Hoje no PCdoB tenho a oportunidade de aprender sobre o Marxismo e a mais valia e principalmente compreender as tarefas revolucionárias da juventude. Ser um agente político Comunista é uma tarefa revolucionaria , pois em meio a um povo que foi orientado a vida toda a se excluir da responsabilidade é muito complicado trabalhar. O preconceito é um inimigo muito forte, a história mostra que a corrupção é viva entre nós, mas procure buscar o outro lado da moeda para compreender melhor o que estamos tentando fazer.
Agradeço a todos que acreditaram e acreditam na minha idéia, e dedico esta em memória a Mauro Jean meu grande irmão.
A herança que deixarei para meus filhos é a de um guerreiro chasqueiro que mesmo baleado rastejando pelo chão chegou até o forte com a seguinte mensagem “ Bem aventurado o que ouve antes de falar”.
Política é ciência e deve ser usada com consciência em prol da sociedade para construir um mundo mais humano para todos nós.